segunda-feira, 8 de junho de 2009

Opção pelo mais difícil



Por Augusto Coutinho
Recife foi escolhida pela FIFA como sub-sede da Copa de 2014. É, sem dúvidas, um motivo para se comemorar. Como todo pernambucano, torci muito para que pudessem ser realizadas aqui as partidas da Copa. Aliás, desconheço qualquer pessoa que, em sã consciência, tenha torcido contra. No entanto, passada um pouco a euforia do anúncio, volto a um assunto que considero importante em relação ao mundial: a opção do governo do estado por construir um novo estádio em São Lourenço da Mata. Minha preocupação não é gratuita. O total a ser gasto com a construção é de mais de R$ 1,6 bilhão. É muito dinheiro. Cabem, então, algumas dúvidas.

O governo alega que viabilizará a construção da Cidade da Copa através de PPPs, parcerias público-privadas. Em tempos de crise financeira, interessará à iniciativa privada investir tanto dinheiro num projeto assim?

É preciso levar em conta que o dinheiro investido pela iniciativa privada não é a fundo perdido. Uma empresa só aplicará naquilo que lhe dê um mínimo de certeza de retorno. O projeto é viável? Por que se construir um estádio num local que fica a mais de 40 minutos do centro da cidade? A infraestrutura hoteleira que também será construída na área, após a Copa será utilizada? O que acontecerá com o estádio?

Recentemente, o Rio de Janeiro investiu uma fortuna para a realização dos Jogos Pan-americanos. Entre outras obras, foi construído um estádio olímpico – que, além do campo, conta com equipamentos para as disputas de atletismo – o Engenhão. Posteriormente cedido ao Botafogo, o João Havelange, seu nome oficial, estava praticamente inutilizado para a prática do atletismo.

Há especulações de que o Náutico teria interesse em assumir o estádio de São Lourenço. Nada foi confirmado até agora. Será viável para um clube da capital realizar seu jogos num local distante?
Das 12 cidades brasileiras escolhidas como sede, sete irão reformar estádios já existentes – Belo Horizonte, Ceará, Coritiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Outras três vão demolir os atuais e construir outros no mesmo local – Brasília, Cuiabá e Manaus. Apenas Natal e Recife irão construir estádios novos. No entanto, somente em Pernambuco ele será feito fora da capital. Não tem muita lógica. Os estados mais ricos optaram por reformar. O Governo de Pernambuco, que está longe infelizmente de ser um estado rico, optou pelo mais caro, mais difícil e mais injustificável. Parece mais uma das pirotecnias da atual gestão. Afinal, se não tem dinheiro para investir na saúde, que continua um caos, e nas estradas, cheias de buracos, só para ficar em dois exemplos, como viabilizará um empreendimento tão caro?

Não faz o menor sentido. Principalmente porque foi apresentada, antes mesmo de se fazer o projeto de São Lourenço, uma proposta muito mais viável. A Arena Coral, o projeto de reforma do Arruda, o segundo maior estádio particular do Brasil e maior do Nordeste.

O custo de reforma do estádio é infinitamente menor que o da construção de um novo em São Lourenço. A Arena Coral está orçada em cerca de R$ 250 milhões, ou um sexto do que está previsto para ser gasto na Cidade da Copa.

As vantagens financeiras do projeto de reforma do Arruda são, portanto, pra lá de evidentes. A reforma, aliás, se encaixa perfeitamente dentro de todos os critérios estabelecidos pela FIFA. Mas há outros fatos ainda que somam pontos a favor daArena Coral.

O estádio fica na capital e, melhor, será totalmente feito pela iniciativa privada, sem um centavo sequer de dinheiro público. Mais: o projeto já tem até os investidores assegurados.

Para se ter idéia do projeto, alguns números: 68.500 expectadores (quase 50% maior que a Arena Multiuso), 90.000 expectadores em shows, tribuna de honra com 350 lugares, 160 camarotes, 2 telões panorâmicos, 15 acessos para o público, 3 restaurantes panorâmicos, 4 vestiários, 2.000 vagas de veículos, 1 heliporto.

Enfim, continuarei sem entender a teimosia do governo em arriscar tanto em um projeto cuja maior vocação, a meu ver, é virar um imenso elefante branco num futuro bem próximo.

Há o risco grande ainda, caso as PPPs não seja viabilizadas, de que o Governo tenha que bancar o projeto. É justo o governo colocar tanto dinheiro público quando há uma alternativa mais barata e viável, sendo necessário apenas preparar a infraestrutura do entorno? Acho que não. E você, o que acha?

Com a palavra, o governo.
PS: Augusto Coutinho (DEM) é deputado estadual líder da oposição e escreve para o Blog de Jamildo sempre às segundas.

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